segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Homem da Rua

Homem que estás estendido,
com meios farrapos vestidos,
visionas calor à tua volta,
mas calor este que não te envolta.

Ninguém te sopra um bafo,
ninguém te deixa safo,
nem ninguém te dará um abraço.
Confesso que nem eu...

Se vagabundo és, não sei.
Além dos meus olhos 
há coisas que não vejo.

Não importa como chegaste a esse estado.
Todo o errante é ser humano.
E assim emerge em mim uma tempestade,
um desassossego soberano.

Parte de mim foi-se
e no meu coração impera outra alma,
como se o mal que lhe faz mal
me retirasse a mim a calma...

E decerto ma tirou,
ainda que o não conheça
e por isso me deixou 
às avessas a cabeça.

No meio de tanto alvoroço,
de toda a agitação daquelas pessoas,
há quanto tempo não terá um almoço,
uma casa e pessoas boas?

Dou por mim, inocente,
a chorar no meio da multidão,
sabendo eu, bem ciente,
que não lhe podia estender a mão.

Naquele ombro que sempre tive,
desde que fui semeada,
deito a minha cabeça, fech'os olhos
e por ela sou guiada,

porque não consegui conter 
toda a minha emoção
de ver distinguido ali a sofrer
um que dizem ser meu irmão.

Não mais a tarde será a mesma
com esta desassossegada mente,
que se emocionou ao ver à frente 
tal imagem decandente.

E os meus olhos assim choram
pela dor alheia do meu semelhante,
as minhas bochechas coram
e fico neste semblante.









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