quinta-feira, 1 de setembro de 2011

'sozinha'

Concentro-me em pensamentos e lembranças, que dão várias voltas à cabeça. Patente em mim está o carinho que tenho por ti. Mas esse carinho não está seguro. Ao som de umas músicas, e movida pelas minhas dúvidas, começo a sentir um ligeiro incómodo que se propaga pelo meu corpo todo como uma onda transversal. O meu rosto complacente altera-se a cada centésimo de segundo, tentando não deixar que as lágrimas que o enlagavam enevoando-lhes a vista, ainda que esta não fosse tão necessária na cálmia escuridão do meu quarto, se soltem. Sinto na minha pele uns fios húmidos levados a cabo por uma leve gota quente e, ao mesmo tempo, um pouco fria na extremidade. Vão em todas as direcções. Passam pelo meu nariz trazendo um efeito semelhante ao de um refogado de folhas de eucalipto, como se aquecesse o interior e me fizesse expelir mucosas de impurezas. Passam também pelos meus lábios e trazem-me o seu sabor salgado. Sei que me vais deixar marcas. Tanto físicas como psicológicas. Quando for velha, terei traçadas no meu rosto as linhas desenhadas pelas lágrimas que derramei. Estou desolada por esta dúvida. Não quero sequer escrever que interrogação é esta de maneira que nem me perguntes qual é. Receio que passá-la para o exterior seria como confirmar esta incerteza. Espero estar a sofrer momentaneamente apenas. Não quero chamar-lhe ‘sofrimento por antecipação’ pois isso quereria dizer que eu vou voltar a ficar triste lá para a frente.
Detesto esta voz interior que, embora sinta que sou eu mesma que formulo todas as frases que me profere mentalmente, não consigo controlá-la. Chego a pontos de dizer repetitivamente ‘não’ a mim mesma para tentar calar esta voz e as imaginações que me traz. Será ela a voz do meu inconsciente? Se for, acho que estou desregulada.  O meu cérebro não deverá estar a trabalhar bem. Porque deixas passar à minha consciência aquilo que só deveria pertencer ao inconsciente? Talvez seja eu a querer prever tudo o que possa acontecer. A querer entender tudo para não sofrer depois. Tenho que arranjar certezas. Mas no meio disto tudo, ainda estou eu aqui a chorar. O meu peito enche-se e esvazia-se bastante, soltando com ele uma respiração forte. É como se enchesse um balão. Depois de tanta agitação interior, sinto finalmente acalmar-me. Na minha face deslizam apenas as lágrimas que sobram e eu começo tenuemente a adormecer.