Aqui, em qualquer lado da casa, vou vagueando no espaço, intercalando obrigações e sentimentos, olhando para tudo à minha volta, dando um pouco de mim àqueles que precisam e, no entanto, dando exactamente muito pouco. Não sei o que se passa. Tento iniciar uma procura neste motor de busca mental, mas derreto-me em lágrimas quentes por incapacidade de encontrar as respostas que procuro. Adolescência. Muito provavelmente é esta a chama envolvente e ardente que me enche a cabeça de coisas que eu não sei. Sofro sem ter pelo que sofrer, choro sem ter uma cebola em frente aos meus olhos lacrimejantes. Não tenho fome, não tenho vontade de fazer nada e ao mesmo tempo tenho vontade de fazer tudo. De ser feliz, de soltar a voz reluzente para uns ouvidos quaisquer, de movimentar o meu corpo de forma harmónica em jeito de exprimir o âmago da minha alma, de esticar os meus lábios em direcção às minhas bochechas, de oferecer o que tenho p'ra dar ajudando a minha família nas tarefas frequentes do dia-a-dia. Quero fazer planos para o amanhã. Quero ter força. Quero saber o que será bom para o futuro. Sinto como se estivesse perdida. Como se tudo o que ando a fazer seja pura e complicadamente em vão. E se eu chegar lá à frente, àquela altura... e ...
Eu não quero. Eu não suporto a ideia de fazer tudo em vão e chegar apenas a um patamar que não pedia um caminho tão longo.
Mas eu sei que não é só por isto que verto lágrimas constante e inesperadamente a qualquer altura. Há mais algo. Tento suster esta pequena porção de água e outros componentes que tentam chegar ao meu lado exterior, mas nem sempre tem efeito. E teimo comigo mesma para descobrir o que me faltará, o que estará mal. Porém não consigo ver através desse vidro. Não sei como, mas parece que lá foi parar uma folha de alumínio tão bem colada que só me vejo a mim mesma. É por isso que não consigo encontrar a resposta. Não consigo vê-la. Só me vejo a mim mesma exteriormente, embora quisesse ver o outro lado. Como esse vidro se terá tornado num espelho eu não sei. Se pudesse, retirava essa folha cinzenta que lá foi parar.
Tristeza feliz. Tenho uma tristeza feliz porque, no fundo, de que sofro eu? Quantos milhões de pessoas não estão neste momento a sofrer a vivo sofrer?! E eu aqui nesta futilidade meia compreensível que foi trazida pela idade. Mas há que ultrapassar. Por isso escrevo desenfreadamente tentando acompanhar com a escrita as minhas ideias para soltar esta trama. E alivio-me...
A certa altura, começo a olhar para o meu texto, não só como um desabafo sofrido, mas como uma obra de expressão para leitura de qualquer um e em que se pode denotar todas as metáforas e contradições que muito facilmente me foram saindo devido à intensidade com que soltei o meu interior. E no fim, tudo são apenas...palavras.